Adélio Silva
SALVAÇÃO
1 – Idéias Gerais
O termo português 'salvar' procede da palavra latina 'salvare', podendo referir-se a qualquer tipo de salvamento, libertação ou livramento. Já a palavra salvus (em latim) significa seguro, a salvo, não prejudicado.
Teologicamente 'salvar' significa livrar de algum perigo ou mal (incluindo o juízo final), juntamente com a provisão do bem estar espiritual, definido nos muitos modos nos variados sistemas religiosos. Comumente a salvação é associada a algum estado futuro, a uma existência pós-túmulo de algum tipo bem-aventurado. Em alguns sistema religiosos isso é contrastado com algum estado de julgamento e miséria.
Dentro do hebraico, a palavra correlata é yessua, indicando 'largueza', "facilidade", "segurança", podendo ser usada em qualquer contexto e aplicação. Observa-se que o vocábulo grego correspondente é 'soteria', que envolve as idéias de 'cura', 'recuperação', 'remédio', 'salvamento', 'redenção', 'bem-estar'. No Novo Testamento esse vocábulo grego é usado para indicar o livramento da condenação , sendo este um aspecto escatológico, mas com raízes na vida presente, sob vários aspectos e ângulos.
Interpretações teológicas sobre a salvação abrange duas situações básicas: A primeira é a crença quase universal dos homens em uma existência após a morte biológica, com a conseqüente crença na imortalidade.. A segunda é a clara convicção de que a justiça precisa ser cumprida, com reflexos positivos ou negativos ( punição ou recompensa). Aplicada a expectativa positiva, a crença na salvação compreende o usufruto de bênçãos, sediadas em um lindo lugar favorável, livre dos males terrenos. Se aplicada a expectativa negativa, um quadro comparável ao terror aguarda os infiéis.
Isto está confirmado na crença judaica-cristã na existência de locais de julgamento como o 'hades' (presente na cultura Greco-romana) e emprestada na moderna cultura cristã, sob influência dos ensinos Neo testamentários. A salvação então teria seus préstimos na ação restauradora de Jesus Cristo, 'o autor' e consumador da fé cristã. Covem ressaltar que nem mesmo o Novo Testamento detém uma linearidade doutrinária com relação à interpretação dessa doutrina.
2 – Aspectos interpretativos sobre a salvação nos variados grupamentos religiosos
I – Religiões Animistas. É provavelmente a mais antiga forma de religião, com idéias visíveis na continuidade do espírito humano, liberados para irem e voltarem, abençoarem ou amaldiçoarem outros. É uma situação de indefinição descritiva quando ao estado dos mortos. Reflexos que apontam a salvação falam sobre o bem-estar destinado aos mortos bons (salvação).
II - Judaísmo. É obscura a visão pentateutica a respeito da vida pós-túmulo tanto no que refere a recompensas como no que se refere a punições . O mais próximo que se pode chegar é Deut 5:33, que promete vida abençoada aos guardadores dos mandamentos . Em lev 18:5 há promessas feitas em termos de longevidade terrena aos fiéis cumpridores. Um pouco mais para a frente, na escrita dos Salmos, já se pode associar esses ensinos a algum tipo de vida no além. Nem mesmo os ensinos proféticos posteriores aos Salmos contém claros ensinos sobre a salvação. Contudo, o Sheol já começa aparecer como uma ameaça aos pecadores e algumas promessas de bem-aventurança como recompensa aos justos. O mais claro trecho no Velho Testamento que pode ser entendido como uma referência a salvação é Dan 12: 2,3, como lemos :" E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.Os entendidos, pois, resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente."
III – No Budismo. A escola hinayana não ensinava a existência de uma verdadeira alma no homem nem a reencarnação. Estados mentais passariam de uma entidade a outra mas cada uma delas se extinguiria por ocasião da morte. Apesar disso, os defensores dessa linha religiosa expunham algum tipo de salvação. Então o Nirvana ( extinção absoluta, vazio absoluto) seria a salvação. No budismo chamado de mahayana são prometidas bem-aventuranças aos seguidores, com resultados futuros no céu chamado de Nirvana. Para essa linha, a salvação seria atingida quando cessassem as reencarnações. No budismo posterior ou atual, foram desenvolvidas idéias de muitos céus e infernos, com possibilidades de retornos para outras vidas e finalmente vida em esferas de glórias (isto seria a salvação).
IV - Confucionismo. No hinduísmo védico é pregada a crença na existência da alma com recompensas ou punições prometidas após a morte. No hinduísmo brâmane prometidas bem-aventurança no além aos que pudessem se desfazer dos círculos das reencarnações pela prática de atos morais e obras positivas. No hinduísmo filosófico é prometida uma vida de alegria e participação (limitada) na natureza divina. Esse estágio é conseguido pela prática do conhecimento, boas obras, , experiências místicas e amor. No hinduísmo devocional é prometida a vida eterna no céu. Há uma variedade de céus e infernos. Pode-se ir subindo de céu em céu até chegar à presença de Deus. A trilha a seguir exige a fé, devoção, amor e prestação de serviços ao próximo.
V – Sikhs. São as mesmas idéias do hinduísmo devocional.
VI – Zoroastrismo. Deus é reto e exige retribuição e recompensa. Os homens maus serão punidos e os bons recompensados. A salvação seria obtida pela prática das boas obras, boas ações, bons pensamentos. Um avanço dessa doutrina aponta Soashyant como o Salvador, que ajuda os homens a atingirem a salvação.
VI - Islamisno. A principal idéia é escapar do julgamento por parte de Allah. O juízo vem pelas chamas eternas. O caminho da salvação exige boas obras e prática da doutrina islâmica. Maomé é o profeta de Allah, o autor do livro santo, o Alcorão. A salvação depende da eleição por parte de Allah e compreende as regalias do prazer e bem-estar.
VII - Filosofia. Platão é uma das figuras dessa linha. As almas são eternas e voltam para a eternidade. Há reencarnações pela prática de atos m orais e vida reta. A salvação consiste na obtenção da perfeição pelas reencarnações, a participação na natureza divina e sua absoirção por Ele (Deus). O neoplatonismo diz que o homem emana de Deus. O retorno da alma para Deus consistiria na salvação. O gnosticismo, apesar de conter curvas obscuras também ensina uma forma de salvação que consiste na libertação da matéria, que é o princípio do mal. As almas inferiores (de menor grandeza espiritual), apesar de não atingirem a natureza divina . As almas inferiores que não possuírem nenhum grau espiritual serão aniquiladas. Para o filósofo Hegel, tudo retornaria para Deus. Para Kant a alma deverá ser recompensada ou condenada. Para o existencialismo teísta, o finito torna-se infinito, progredindo no processo chamado de salvação. Nas filosofias científicas (positivismo) a salvação é algo que não podemos discutir com inteligência, devendo tais discussões serem evitadas. No humanismo a salvação é algo temporal e terreno, devendo-se optar para o melhor que se apresenta aqui e agora. No transcendentalismo o homem é uma alma e deve buscar vida permanente no espírito e nisto consiste a salvação.
VIII – Cristianismo. Considere-se o que foi visto sobre judaísmo como a parte básica para compreender o cristianismo. No Novo Testamento não está exposto apenas um conceito de salvação. Os evangelhos sinópticos oferecem-nos a visão popular que veio a predominar na Igreja. Ali a salvação consiste em ficar livre do pecado, converte-se e passar a viver uma vida muito melhor no espírito. A mais elevada meta é a participação na natureza divina . No evangelho de João este conceito é mais elevado, com indicativos de filiação do crente com Deus através de Cristo (João 5:24) . A salvação final, à luz dos escritos paulinos vai além do que ensina os evangelhos sinópticos. Consiste de: participação na filiação ( Rom 8:14-29), participação em toda a plenitude d Deus ( Ef 3:19), a participação na plenitude do Filho ( Col 2:9,10). Para Paulo, a salvação é dinâmica e continuada, de glória em glória, interminavelmente ( II Cor 3:18; II Perdro 1:4) .
Fontes de Consultas : Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, de Russel Champlin; Bíblia Sagrada